Jan de Rooy é um empresário holandês do setor de transportes, e até hoje suas empresas são parceiras de montadoras e outras gigantes do segmento. Na década de 1980, o empresário decidiu correr no Rally Dakar com seus próprios veículos.
A trajetória começou em 1982, com um caminhão DAF sem muitas alterações, e, após a edição de 1983, ele decidiu que precisava de mais potência se quisesse fazer melhor na competição.
Para isso, o ano de 1983 foi dedicado à construção de um novo caminhão, que deveria ser mais potente e mais robusto, garantindo uma boa colocação na temporada de 1984 do Dakar. Como a tecnologia era, de certa forma, limitada, a decisão do time foi a de usar dois motores em um único caminhão.
Para isso, dois caminhões DAF 3300 foram usados, criando um caminhão de duas cabines. A cabine frontal, maior, era de um caminhão novo, e a parte traseira de um veículo usado. Como cada motor ficou posicionado em baixo de uma das cabines, eles tracionavam os eixos investidos. Ou seja, o motor sob a cabine amerela movia o eixo que estava em baixo da cabine cinza, e o motor da cabine cinza tracionava o eixo dianteiro, que ficava em baixo da cabine amarela.
Apesar das duas cabines, o caminhão só tinha um sistema de direção. A equipe precisou de muito tempo para conseguir sincronizar os motores e as caixas de câmbio, para que oferecessem a mesma potência, torque e rotações.
Depois de pronto, em testes na fábrica da DAF, os motores combinados chegaram à potência de 800 cavalos, e o torque não chegou a ser medido, já que o caminhão quebrou o dinamômetro.
Batizado de Tweekoppig Monster, ou Mostro de Duas Cabeças em holandês, a segunda cabine deveria ser retirada, e o motor traseiro ganharia uma cobertura própria. Como não houve tempo para isso, a cabine foi mantida, mas todo o interior foi desmontado e foram instaladas duas camas para as pausas de descanso.
Durante o Rally Dakar de 1984, o caminhão logo assumiu a ponta entre os pesados, e seguia muito bem, até que um rolamento travado em uma das rodas acabou com o sonho de de Rooy. Ele contou, em uma entrevista na época, que tinha centenas de peças de reposição para o caminhão, mas nenhum rolamento. Isso porque a peça dificilmente apresentava problemas, ainda mais sendo nova.
Ele até tentou conseguir uma nova peça para substituição, mas o prazo dado pela direção de prova não permitiu. Com isso, o Tweekoppig Monster conseguiu completar o Dakar só no ano seguinte, como caminhão de apoio, já que o time desenvolveu um novo caminhão para o Dakar 1985, o DAF Turbo Twin, com potências acima de 1.100 cavalos. Mas essa é outra história!
Neste ano, o Tweekoppig Monster participou novamente do Dakar, na edição Classics, mas chegou em 72ª colocação. A versão clássica do Dakar, para veículos abaixo dos anos 2000, é mais um passeio do que uma competição, já que muitos veículos, como o Mostro de Duas Cabeças, são únicos.
Rafael Brusque – Blog do Caminhoneiro